sábado, 18 de dezembro de 2010

Trilha



É, eu me perdi. Não sei onde deixei os sapatos antes de sair, se guardei as chaves, a água secou no fogo em pleno esquecimento. Adormeci com os olhos abertos nos braços mornos deles. O sono nunca chega, nunca. Queria poder em lençóis infantis, quase virginais na alvura de uma extensa calmaria. Acordar seria menos cansativo. Não estou reclamando, não é isso. Só que perder-me tem se tornado constante. Provas, contas, camas, olhares, banco vazio ao lado, silêncio com rádio ligado. É, ainda me sinto agressivamente solitária. Não aguei os dias, rabisquei o corpo, pintei os lábios e sujei alguns copos, parei de atender o telefone, mas abri diariamente a caixa de correio. Perdi-me em meus próprios cabelos, embaracei os meses, cortei-os até os ombros e ainda não sei se me arrependi ou não. Inquieta permaneço, tranço alguns fios. Aqui continuo, o endereço não mudou. Talvez não receba mapas, latitude e longitude se expandem nos desejos, mas se as coordenadas são seguras, desconheço.

Diana M.

2 comentários:

  1. Há quem diga que perder-se também é caminho. E é, mas quem disse que todo caminho é bom? Certo?

    Quer o seu seja ótimo, na perdição e principalmente fora dela. De qualquer modo, se estamos falando de caminhos, prefiro Caio quando diz que não vamos encontrar caminho nenhum fora de nós, "o caminho é in, não é off."

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  2. Já dizia Clarice
    "Que minha solidão me sirva de companhia.
    Que eu tenha a coragem de me enfrentar.
    Que eu saiba ficar com o nada
    e mesmo assim me sentir
    como se estivesse plena de tudo."

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