terça-feira, 20 de março de 2012


Fez-se mais turvo que um filme coreano sem tradução. Compreendi somente suas nuances sem falas. Optei tatear o caminho de casa com a ponta da língua sonolenta pela cor morena da pele. O avesso dos meus traços encurralou-me no silêncio das despedidas, o desapego costumeiro. A ausência de dedos entrelaçados, as pilhas de lençóis sujos, o sebo dos dias sem rumo entupindo o ralo. Tirou-me pra dançar nessa troca de pés e sapatos, sem música, sem ritmo. Mas eu falo melhor com os dedos do que com a própria boca. Recitei o dicionário em braile completo sem hesitar enquanto a água do café secava a sua espera diária. Escrevi 5 anos de cartas, bilhetes, telegramas, mas nunca pedi seu endereço por saber que nunca teria altura na ponta dos pés pra alcançar a campainha. Creio que seja essa a razão de ter plantado um quintal sem portão, sem tranca, sem a infantil esperança de sujar seus pés com terra.