quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Pode ir



Sua ausência me calou de súbito. Cresceu um vazio pesado como pedra em cima do peito, entalando a garganta, cortando a voz, esmagando toda e qualquer palavra. Eu me odiei por isso, tanto que cuidei para que meu lirismo não fosse efêmero, não fosse parco, ao menos fosse. Queria-te como quem deseja um motivo pra continuar com os dias, com o emprego maçante, com as visitas de domingo entediante aos parentes distantes. Você sempre coloria o azedume do medíocre que é a minha vida sem os seus dedos no meu travesseiro, na minha janela embaçada, no meu dizer verborrágico. Esses versos decassílabos que emoldurei no seu caderno só me tornaram prolixo. E eu que tinha pés tão fincados no chão e mapas dos meus caminhos, me vi perdido em vazio e caos. Percorri atalhos que sempre soube que eram desvios rasos, sem pudor e sem vergonha. Precisei me perdoar a cada noite numa tentativa de apaziguar meu sono, numa vã tentativa que meu sonho não te trouxesse. Sua falta me pesou no nó da garganta todas as vezes que dizia seu nome e não me respondia. Sou o resíduo do caos improdutivo que você deixou entre as suas coisas esquecidas em mim, em nós, em tudo aquilo que deixamos de ser. Sou a vontade de te ter de novo, pelo menos a voz pelo telefone calando o som mudo do seu adeus sem palavras.

Ao som de Você pode ir na janela - Gram

Parceria com o Darlan palavrasobliquas.wordpress.com , meu maior parceiro, sua leitora mais fiel