terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Logo chega



"Poderia tecer intermináveis dizeres afagando seu ego, fazendo-o transbordar no meu colo, mas isso nunca te trouxe. Talvez uma nova estratégia, um novo argumento ou segredo confessado o faria lembrar relembrar de mim. Longe, mas sempre aqui. Não vou dizer que a sua espera, soaria dramático demais até para mim. Mas, você sempre esteve presente nas minhas escolhas mesmo não estando ciente do meu argumento..."

Trecho retirado de uma carta que ainda não mandei.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Merthiolate



A vontade de ir te comendo pelas beiradas, te revirar e envolver até que não haja mais caminhos ou vontade de fuga. Desejo sorver o hálito morno que escorre pelos meus ouvidos quando reza o meu nome em sussurros, beber do café da sua mão em concha pela manhã, secar-me após o banho quente com o seu lençol azulado, usar as suas meias do varal ainda empapadas pelo seu cheiro de preguiça, de cansaço dos dias. Seria seus pés calejados só pra descansar seus dias, mudar a rota, esfregá-lo na areia de praia num domingo lento. Até que tuas manias fossem as minhas, os meus defeitos fossem os teus e a nossa vida modesta fosse grande em detalhes, emaranhadas até desgastarmos nossos vícios, enjoarmos do nosso gosto e entediarmos nosso sexo suado.

E então desmoronaria toda aquela eternidade que a intensidade criou, minhas coisas deixadas na portaria numa caixa de papelão velha aonde chegou nossa primeira TV, alguns CD’s e a coleção de filmes orientais que seriam agora motivo de raiva e tristeza, amaldiçoados pelo fim do nosso amor. Nunca mais Kitano, uma aversão tenebrosa a Adriana Calcanhotto e certo enjôo só de pensar em comer a gelatina bicolor que engordava nossos almoços. Nunca mais os pêlos se misturando na mesma almofada. Meus pertences espalhados pela casa irritando sua organização patológica agora vão criar bolor.

Intimidade se desfaz como se nunca tivesse existido. Atravessar a rua ligeiramente para não precisar decidir se falamos ou não um oi, aquele ciúme ao saber do seu novo amor e a dúvida mesquinha e inevitável se ele mete melhor que eu. Mudar o corte de cabelo numa vingança infantil, somente por saber que apreciava com ternura enrolar seus dedos ágeis nos meus fios compridos. E o importante é não morrer e demonstrar bem-estar, e claro que uma nova namorada com a bunda maior que a sua ajuda muito. A felicidade é saber que ainda te incomodo, só não precisava chamá-la de piranha e outras baixarias, não é assim que sua bunda vai crescer… Já fomos tão melhores que isso, né? Maiores… Talvez…


Mais uma agradável parceria com Darlan (palavrasobliquas.wordpress.com)