sábado, 13 de novembro de 2010



Revi as penas de anjo que embaraçam meu cabelo, senti a boca secar na nascente dos olhos que apelam pelas regras do choro. Esqueci como se chora, emudeci o soluço de uma vida inteira pela metade. Isso faz embaçar sem grau de reparo todas as cores que me são ofertadas com ou sem digitais. Paladar salgado, gosto de sol ao meio-dia. Não adiantou pensar em você fazendo encher a banheira de saliva. Na curva da minha cintura não floresce nada sem a o chuvisco das retinas. Você disse que queria ver o mar. Gravei o pedido mas rodas da minha bicicleta. Pedalei enquanto o escuro do céu se confundia com o negrume do asfalto. Mal enxergava meus próprios dedos arroxeando-se no alento do vento frio que cobria a nuca. Ao chegar sorvi do som que batia no pano listrado da blusa e fazia dançar a mecha de cabelo que lambia o ombro num arrepio. Dos olhos não brotava água ou sal, concha ou grão, tudo se expandia na imagem viva que batia, no pedido que pulsava, no desejo preso no peito, no não saber. Era tarde, tenho letras, números, rabiscos pra amanhã. Mas, sorri de canto de boca, sem poeira, sem ninguém ver, só por beber do seu pedido. Só por não lembrar como fazer da manga listrada uma borda de areia. Só por compreender que mesmo não sendo meu recanto, querendo ou não, o choro permanece na concha que guardo na estante do quarto.

Diana M.

Um comentário:

  1. Lindo texto, em cada detalhe. Imagens, sons, sentidos... tudo passou pela minha cabeção. Aliás, não passou, ainda está aqui.

    Beijo!

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