quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Sede



E numa terça asfaltada, perfumei os cabelos cansados, calcei os pés de piar recente, fiz do arfar das novas penas o movimento circular das rodas que levam-me até aquele que bem conheço.Sentamos na calçada, entrelacei os dedos frios nos fios da camisa que instantes mais tarde, mais escuro, aquecia o chão de um quarto sem lençóis. Tudo nasce na língua, no salivar de alguns meses passados, nos dentes desabotoando os sorrisos na quintal vazio. Pulei a janela, pedi um copo suado de água, contorci no ímpeto carnal até os sons abafarem no travesseiro. Calças no joelho, a boca enche de asco escorrendo pelos pêlos que prosseguem movimentando-se sem perceber que o castanho da visão tornou-se reflexo da janela aberta. Choro pelas pernas, meu lacrimejar mancha as linhas das mãos que me guiam até o portão. A citosina desmembra a penugem, fazendo do ninho memória. Mas, a boca não sorri, o beijo não pede em matrimônio. Falta, falta o que eu nem sei. Creio que o acúmulo daquilo que nunca provei faça azedar todas as bocas efêmeras.

2 comentários:

  1. Ótimo texto, fazendo jus ao nome. Começou doce, terminou agri. ;P Saudade dos seus escritos, que sejam constantes.
    Beijos!

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  2. *__*

    Tomara que sejam constantes mesmo!

    Falta o encanto e a sua entrega, o seu querer.

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