
Abri a janela do ônibus noturno fazendo o vento gelado soprar as nuvens do azulado das minhas unhas. O ar entrou pelas mangas maduras da minha camisa cansada, fez esfriar. É contínuo o anseio de um cobertor de pele nos transportes urbanos. Deparo-me com certa frequência irritante os casais adocicados que transformam bancos em movimento rastejante um pedaço de nuvem sem céu. Nesses relances permito-me querer. Querer um cabelo quente no meu colo frio pra fazer neblina com as próprias mãos. Esquentar o espelho à dois e enxugar o beijo com calma. Aguar as horas, pelejar com as filas, chutar algumas pedras sem sapato e poder sorrir ao telefone, desmembrando o dia em notas no ouvido mais aveludado. Escrever conselhos no cobertor, encher a estante com verbos novos e compartilhados, transbordar a panela com algum tempero que faça memória. Alguém pra dividir afeto. Alguém que queira querer.
Diana M.
Texto bonito, com doses sutis de dor nesses quereres. São quereres comuns, nosso lado humano gritando que é todo mundo igual.
ResponderExcluirParabéns pelo novo começo, mais uma vez, de novo, novamente. rs Beeeijos!