segunda-feira, 21 de novembro de 2011




Como se o pássaro inquieto entre as minhas costelas salivasse entre os órgãos, ansiando sair pela boca de ninho. Gosto de palha seca entre os molares, canto que mora na lembrança fina e resistente como pele de ovo. Passarinho que não sabe voar quebra as asas pela heresia da recusa dos seus instintos. É como meu coração que não sabe amar, recusa todos os ensinamentos infantis, cristalinos. A ponta da língua sangra em resposta da briga pela visão do sol. Como se fosse perder o ar, o chão, o restante do dia, o pássaro por entre os dentes rasgando a parede dos meus argumentos sai, voa intensamente mesmo com as asas sebosas pelos resíduos de receio humano. Alcança voo pleno, linear e quente como o meio-dia do relégio. Quase ria dentes para sorrir tamanho contentamento surrealista, orgasmático. Tão rápido, tão vívido, tão puro que nem abriu os olhos em pleno percurso e esfacelou-se no primeiro muro. Mil pedaços se dizeram, catei um a um e engoli a seco. Ele nunca deveria ter saído.

3 comentários:

  1. "Ver é irreversível".

    E eu tenho sauddade das suas mais palavras mais constantes.

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  2. Também sinto saudade das suas palavras!

    Viver é irreversível e se vivemos, vemos. (parafraseando o Darlan ali)

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